AS PORTAS QUE ABRIL ABRIU* * * * *Era uma vez um paísonde entre o mar e a guerravivia o mais infelizdos povos à beira-terra.Onde entre vinhas sobredosvales socalcos searasserras atalhos veredaslezírias e praias clarasum povo se debruçavacomo um vime de tristezasobre um rio onde miravaa sua própria pobreza.Era uma vez um paísonde o pão era contadoonde quem tinha a raiztinha o fruto arrecadadoonde quem tinha o dinheirotinha o operário algemadoonde suava o ceifeiroque dormia com o gadoonde tossia o mineiroem Aljustrel ajustadoonde morria primeiroquem nascia desgraçado.Era uma vez um paísde tal maneira exploradopelos consórcios fabrispelo mando acumuladopelas ideias nazispelo dinheiro estragadopelo dobrar da cervizpelo trabalho amarradoque até hoje já se dizque nos tempos do passadose chamava esse paísPortugal suicidado.Ali nas vinhas sobredosvales socalcos searasserras atalhos veredaslezírias e praias clarasvivia um povo tão pobreque partia para a guerrapara encher quem estava podrede comer a sua terra.Um povo que era levadopara Angola nos porõesum povo que era tratadocomo a arma dos patrõesum povo que era obrigadoa matar por suas mãossem saber que um bom soldadonunca fere os seus irmãos.Ora passou-se porémque dentro de um povo escravoalguém que lhe queria bemum dia plantou um cravo.Era a semente da esperançafeita de força e vontadeera ainda uma criançamas já era a liberdade.Era já uma promessaera a força da razãodo coração à cabeçada cabeça ao coração.Quem o fez era soldadohomem novo capitãomas também tinha a seu ladomuitos homens na prisão.Esses que tinham lutadoa defender um irmãoesses que tinham passadoo horror da solidãoesses que tinham juradosobre uma côdea de pãover o povo libertadodo terror da opressão.Quem o fez era soldadohomem novo capitãomas também tinha a seu ladomuitos homens na prisão.Posta a semente do cravocomeçou a floraçãodo capitão ao soldadodo soldado ao capitão....Capitão que não comandanão pode ficar caladoé o povo que lhe mandaser capitão revoltadoé o povo que lhe dizque não ceda e não hesite- pode nascer um paísdo ventre duma chaimite.Porque a força bem empreguecontra a posição contrárianunca oprime nem persegue- é força revolucionária!Foi então que Abril abriuas portas da claridadee a nossa gente invadiua sua própria cidade.Disse a primeira palavrana madrugada serenaum poeta que cantavao povo é quem mais ordena.Dizia soldado amigomeu camarada e irmãoeste povo está contigonascemos do mesmo chãotrazemos a mesma chamatemos a mesma raçãodormimos na mesma camacomendo do mesmo pão.Camarada e meu amigosoldadinho ou capitãoeste povo está contigoa malta dá-te razão......Foi esta força virilde antes quebrar que torcerque em vinte e cinco de Abrilfez Portugal renascer....
Manuel Bancaleiro
18/01/2006
AS PORTAS QUE ABRIL ABRIU
José Carlos Ary dos Santos - 7 de Dezembro de 1937 / 18 de Janeiro de 1984
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