25/09/2005

O QUE A IGREJA NÃO FALA


GARCIA (AVRAHAM) DA ORTA
Médico e Naturalista do século XVI: 1499? - 1568

CAMÕES:
O FRUTO DAQUELA ORTA ONDE FLORESCEM PLANTAS NOVAS QUE OS DOUTOS NÃO CONHECEM.


QUANDO TUDO ACONTECEU...

1499?: Garcia da Orta nasce em Castelo de Vide, filho de Fernando (Isaac) da Orta e de Leonor Gomes. - 1523: Retorna a Portugal depois de estudar medicina em Salamanca e Alcalá de Henares. - 1530: Ingressa como professor de Lógica na Universidade de Coimbra. - 1534: Parte para Goa, Índia portuguesa, onde passa a residir, a trabalhar como médico e no comércio de especiarias e pedras preciosas. - 1563: Publica o seu Colóquios dos Simples e Drogas da Índia. - 1568: Falece. - 1580, 4 de dezembro: Condenado post-mortem pelo Tribunal do Santo Ofício pelo "crime" de "judaísmo"; tem seus ossos desenterrados e queimados.
Garcia da Orta. Médico português, cristão-novo. A sua vida começa com o seu nascimento em Castelo de Vide, por volta de 1500, em 1568 termina em Goa, na Índia. Ele é descendente daqueles judeus expulsos da Espanha em 1492 que entram em Portugal.
Em 1497 D. Manuel, por imposição da igreja, converte todos os judeus compulsivamente ao cristianismo. Daí ficam conhecidos como cristãos-novos, termo que já existia em Castela e Aragão. Os pais de Garcia da Orta refugiam-se em Portugal e começam a refazer sua vida no novo país. Garcia da Orta, depois de terminar os seus estudos gerais, segue para Salamanca e Alcalá de Henares, em Castela, onde estuda medicina.
Garcia da Orta fica muito interessado, ainda na universidade, pelo estudo das plantas medicinais, dos animais e minérios com uso medicinal ou simplesmente daquelas novidades do mundo natural que nunca haviam sido relatadas.
Em 1523 Garcia da Orta regressa a Portugal e recebe a autorização para exercer a saiu actividade. Nessa fase da sua vida convive com importantes figuras em Portugal. O matemático Pedro Nunes, também cristão-novo, é um de seus grandes amigos.
Em 1530 assume a cadeira de Lógica na universidade de Coimbra. Tem algumas dificuldades para consegui-la. Assim é Portugal nesse tempo! A sua paixão pelo estudo das coisas do mundo leva-o a ser um professor conceituado e querido. Garcia da Orta ensina aos seus estudantes a importância do estudo das coisas do mundo, o valor da observação, o valor dos sentidos que vêem o novo e o inusitado .
Contudo há um outro problema, D. Manuel havia prometido, quando da conversão maciça e forçada dos judeus ao cristianismo em 1497, que durante cinquenta anos os cristãos-novos não seriam importunados com questões religiosas.
Só que as coisas não seguem o rumo desejado. Já em 1506 sofrem perseguição do baixo-clero em Lisboa. Há pressões para que se estabeleça o Santo Ofício em Portugal. O que virá a acontecer em 1531, por meio da bula Cum ad Nihil Magis, de 17 de Dezembro, ao lembrar que "alguns convertidos” , chamados de cristãos-novos, tinham voltado ao rito judaico, ou que nunca o tinham abandonado.
A ladainha de sempre! De facto o Santo Ofício só começa a agir em Portugal a partir de 1536. Garcia da Orta está neste interregno de tempo. Ele que, junto com sua família, só aderiu formalmente à religião dos cristãos e segue às escondidas a religião de seus ancestrais, ao contrário de outros cristãos-novos que aderem plenamente à nova fé, tem bons motivos para se sentir ameaçado.
Martim Afonso de Souza, é um grande amigo de Garcia da Orta, regressa a Portugal vindo das terras do Brasil… a Índia ainda é o grande objectivo da expansão portuguesa e aos 12 dias do mês de Março de 1534, Martim Afonso de Souza é nomeado Vice-Rei da Índia e é para lá mandado com uma esquadra., Garcia da Orta segue junto com sua família.
Em Goa actua como médico. Conhece os hakuma, os médicos árabes, conhece também o trabalho dos médicos hindus (chamados de vydias) a quem desconhecia por completo e nessa altura faz uma grande amizade com Luís Vaz de Camões ( a quem pertence, parte deste texto ) .
Como médico participa da primeira autópsia realizada em Goa, por ocasião de uma epidemia de cólera em 1543. Mas há algo que o atrai mais do que o cuidar dos doentes. A grande variedade de plantas medicinais e comestíveis, de resinas, de secreções animais, de minérios.
Garcia da Orta passa a plantar e comercializar especiarias. Ao mesmo tempo constrói uma horta, onde efectua a plantação de ervas medicinais para seu estudo. Viaja pelo interior da Índia, acompanha expedições militares, vai inclusive até o Ceilão. Estuda a nomenclatura local das doenças e de seus remédios. Compara com o que aprendeu na Europa e trata de encontrar possíveis correlações.
Os últimos anos de Garcia da Orta são bastante difíceis. Enfrenta dificuldades financeiras e querelas familiares. Em 1568 adoece de grave doença que o leva à morte. Mas ainda vê sua irmã, Catarina, ser levada à Catedral de Goa para ouvir sua sentença pelo "crime" de judaizar: a fogueira. Pessoas de sua família são devassadas pela fúria inquisitorial. Não apenas em Goa, mas também em Portugal. Ele falece doente, amargurado e em extrema dificuldade mas, pelo menos, parece estar em paz. Só que o Santo Ofício não pára na sua sanha "purificadora". Como decorrência dos processos levados a cabo contra pessoas de sua família, acaba sendo julgado pos-mortem e condenado à fogueira. Como não se encontra mais entre os vivos, seus ossos são desenterrados e queimados.
OVELHA NEGRA

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