03/05/2007

IDEOLOGIA NAZI - NÃO OBRIGADO

I

Para melhor se compreender certos fenómenos que levam ao surgimento de movimentos político-sociais contrários a vivência democrática, é importante sabermos como as sociedades evoluíram ao longo da história, sob o aspecto da organização política.
Para isso, basta percorrermos a literatura de alguns pensadores que deram origem às teorias politicas, inicialmente, de caris utópico ( inicio do séc. XIX ) – de Thomas Morus passando por Robert Owen, Saint Simon, Fourier ou Ludwig Feuerbach, até ao surgimento da doutrina materialista, ou seja, das teorias do socialismo cientifico (dos fins séc. XIX até meados do séc. XX ). Em todas estas teorias, há o reconhecer de uma realidade inaceitável para a condição humana – que é, a forma degradante como o homem é explorado pelo homem. E encontramos simultaneamente nessas teorias, o apontar de caminhos, que levam a uma consciência social, que culmina com o fornecer de respostas plausíveis para o fim dessas injustiças sociais.

II


A revolução Industrial, deu origem a um novo modelo de organização socio-económica – A sociedade Capitalista.
Com este novo tipo de sociedade, surgiram os movimentos associativos, trabalhistas e cooperativista, como forma de organização social, para fazer frente ao capitalismo primário, completamente desregulado, em que, imagine-se, a própria retribuição salarial paga aos trabalhadores era abaixo do valor de subsistência, o que levou à diminuição drástica do número de operários. Poder-se-á dizer, que esta foi a primeira crise do capitalismo e que obrigou à elaboração da “lei de bronze dos salários”, fruto do poder reivindicativo que esses movimentos começaram a exercer, dando origem ao surgimento dos primeiros partidos políticos de ideologia operária e dos movimentos sindicais.

III


Os primeiros partidos políticos surgidos no interior dos trabalhadores fabris, foram os Partidos Sociais Democratas Operários, que devido à crescente massa operária e à sua consciência de classe, depressa se transformaram em partidos de todas as classes trabalhadoras, com uma enorme representatividade e um elevado poder reivindicativo, tanto ao nível político, como ao nível social, através dos seus sindicatos.
Isso, foi um enorme problema para o Capitalismo, que detendo o poder económico e o poder politico central, não tinha em seu poder, o controlo dos partidos políticos dos trabalhadores. O que fazer então? Hoje, a resposta está bem à vista! Quem representam os Partidos Sociais Democratas? Os trabalhadores (a esquerda)?
Ou o patronato (a direita)? Foi precisamente isso que aconteceu, o poder capitalista (patronato) de forma subtil, através dos seus lacaios e caciques apoderaram-se paulatinamente desses partidos…e como seria de prever ao longo das décadas seguintes foram perdendo o apoio dos trabalhadoras…e estes últimos, por sua vez criaram novas organizações proletárias com uma mais fincada consciência de classe, onde nasceram mais fortes, mais sólidos e mais poderosos os novos partidos políticos: Os partidos socialistas operários e os partidos comunistas.

IV

E mais uma vez a história volta a repetir-se. Sempre que esses partidos criam uma ampla base de representatividade na sociedade, eles são tomados de assalto pelo Capitalismo, para serem controlados e dirigidos pelas classes patronais, ou seja, pelas classes dominantes, de forma a conseguirem manipular e dividir as massas trabalhadoras. Veja-se o que tem vindo a acontecer aos partidos socialistas europeus. Hoje existem partidos socialistas na Europa, com politicas muito mais à direita do que os próprios partidos sociais democratas. O Partido Socialista português é infelizmente um bom exemplo dessa triste realidade.

V

Até mesmo, mais à esquerda isso aconteceu. Por exemplo, o Partido Comunista de Itália durante as décadas de 70 e de 80 do séc. passado, tinha uma ampla base de apoio na sociedade italiana. Foi tomado literalmente pela burguesia de ideal capitalista, dando origem a uma falácia, que se auto denominou de euro-comunismo, que mais não foi do que a tomada da posse desse partido pelo capitalismo. O mesmo aconteceu com diversos outros partidos politicos, um pouco por toda a Europa Ocidental.
Onde estão esses Partidos agora? Praticamente não existem e alguns foram até mesmo dissolvidos.
Porém, alguns partidos políticos da esquerda europeia, para evitar cair nas mãos do grande capital, tiveram de criar sistemas de blindagem para impossibilitar a infiltração dos “agentes” do capitalismo. E hoje, estamos constantemente a ser bombardeados pelos “fazedores de opinião”, especialistas na manipulação social através dos “media” em que acusam esses partidos de possuírem “cortinas de ferro” e de serem partidos profundamente ortodoxos. É um paradoxo. Mas seguramente você agora compreende porquê!

VI

O holocausto nazi, surgiu precisamente dessa forma, no aproveitamento da expansão dos ideais do socialismo científico de caris internacional conjugado com a grande depressão económica ( 1929 ), o desemprego com níveis altíssimos, as humilhações provocadas pelo Tratado de Versalhes e o enorme descontentamento social, levaram o povo alemão a apoiar um partido que se dizia socialista e dos trabalhadores. O ditador Adolf Hitler chegou ao poder enquanto líder de um partido político: o Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães- Nationalsozialistische Deutsche Arbeiterpartei . O termo Nazi é um acrónimo do nome do partido (vem de National Sozialist).
O Nazismo, ficará para todo o sempre, como um marco de referência para a humanidade. O ponto de referência mais negro da sua história. A partir dessa catástrofe, nada… mesmo nada, ficou como dantes na humanidade. Passou a existir o antes e o após.
O III Reich de Adolf Hitler, roubou a vida a mais de cinquenta milhões de pessoas. O nazismo custou à humanidade a impressionante cifra de 1 trilhão e 500 bilhões de dólares, quantia que, se investida no combate da miséria humana a teria suprimido da face da terra. Aproximadamente 110 milhões de homens e mulheres foram mobilizados, dos quais apenas 30% não sofreram morte ou ferimento. Os campos de concentração e de extermínio foi o maior ultraje à humanidade. Só no ca
mpo de Auschwitz, entre Maio de 1940 e Janeiro de 1943, entraram mais de 2,2 milhões de pessoas, 1.335.000 foram assassinadas nas câmaras de gás e mais de 200.000 morreram de fome, de doença, de frio ou brutalidades de todo o tipo, como espancamentos, experiências médicas, enforcamentos, etc… - Nos campos de concentração e extermínio erguidos pelo Nazismo, a notícia do extermínio de mais de 10 milhões de pessoas de todas as idades, raças e credos tombou, como uma pesada pedra, sobre a consciência da Humanidade. Uma pergunta, uma só, ecoava no espírito de todos; como foi possível tamanha crueldade?


VII

Hoje, 60 anos após o holocausto, devemos encarar com alguma preocupação o surgimento de diversos grupos neo-nazistas, principalmente formados por jovens e mantidos por partidos de extrema-direita, sedeados na Europa.
Muito embora esses grupos ao nível das sociedades europeias não tenham qualquer expressão ( veja-se os resultados obtidos por Le Pen nas ultimas eleições em França).O certo, é que na realidade se tem verificado um aumento quantitativo desses grupos, um pouco por todos os países da Europa, tendo inclusive, obrigado a União Europeia a legislar no sentido de não permitir a sua existência no seu interior.
Isto por si só não vai resolver o problema. Há que tentar encontrar explicações plausíveis para tal fenómeno.
Em primeiro lugar, as causas do ressurgimento do ideal nazi, tem a ver com o desconhecimento total por parte dos jovens do que foi aquela catástrofe mundial, devido ao branqueamento propositado e sistemático que tem sido feito por parte dos poderes políticos instituídos na Europa em relação à forma como a própria Europa permitiu que Adolf Hitler chegasse ao poder.
Em segundo lugar, a sociedade capitalista, na tentativa de desculpabilizar aquilo que é considerado até aos dias de hoje o maior holocausto – o nazismo - utilizando tácticas da manipulação de opinião , compara sempre, com a intenção de confundir, o nazismo ao estalinismo, como se essa comparação fosse verídica e comparável.
Em terceiro lugar, os jovens aderem aos grupos neo-nazis, porque se sentem defraudados com aquilo que a Europa lhes prometeu. Uma Europa de oportunidades, uma Europa mais igualitária,
uma Europa mais solidária…contudo, para os jovens de hoje, isso não passa de uma miragem. A Europa não passa para eles de um sonho adiado. Eles, não encontram neste modelo europeu neo-liberal as respostas para as suas necessidades de ordem familiar, pessoal, social, profissional e até mesmo cívica. Assim, explorando a vulnerabilidade juvenil, os movimentos neo-nazis podem recrutar facilmente alguns sectores dessa juventude, manipulando-os e seu belo prazer. A própria proibição de propagação do nazismo na maioria dos países estimula os jovens que inicialmente não tinham contacto com esses grupos neo-nazis a interessar-se por esses movimentos, visto que é característica marcante dos jovens a busca do proibido como forma de expressar rebeldia e o seu descontentamento.
A Europa que devemos exigir e pela qual devemos lutar, é por uma Europa solidária, multi-racial, tolerante, mais igualitária no aspecto social e pluralista na sua representatividade politica, em suma a Europa que devemos exigir é uma Europa livre e democrática.






Manuel Bancaleiro

2 comentários:

Rick disse...

Parabens pelo blog.Veja os meus blogs,em especial a agenda secreta e a quarta guerra mundial.

Jose Vilsemar Silva disse...

É uma satisfação encontrar cidadãos com uma boa formação crítica espalhadas pelo mundo. O teu blog é extremamente útil e esclarecedor, bem como esta importante matéria. Alguém comentou: O MAL TRIUNFA PELA OMISSÃO DOS HOMENS DE BEM. Com toda a certeza não é o caso das matérias aqui descritas.Muitos poderosos das mídias tentam dificultar a explanação das verdades ou divulgam apenas meias verdades por motivos obvios (como aqui no Brasil), mas é graças a pessoas como você que a verdade é divulgada e isto preocupa a grupos que impuseram a globalização onde alguns lucram muito, outros ganham muito pouco e a maioria é excluída. Saudações!