O conceito e a existência de Deus , (no meu caso, em que fui educado num país católico, do Deus único) nunca foi algo em que depositasse ao longo da vida muita fé.
Ou seja, não era sim nem não, era "nim", e dedicava-lhe uma indiferença total. É claro que nessa altura, tal como todos os outros, a minha capacidade para pensar e aplicar a minha razão e conhecimentos num assunto tão controverso era mínima, portanto só quando comecei a adquirir os conhecimentos mínimos necessários e a necessidade de obter certas respostas é que o assunto se revelou mais problemático.
Até hoje, para além da História, que é fundamental para conhecer o ambiente em que surgiram os primeiros mitos e também a evolução da mentalidade humana ao longo da nossa evolução( nisto falarei mais á frente, quando referir os conceitos básicos sobre a evolução da humanidade).
O que abaixo se transcreve á da autoria do pensador livre, que teve a sorte de ter nascido fora dos tempos da inquisição : ENRICO RIBONI, tem o poder da verdade histórico-cientifica... impossivel de apagar.
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A seita que ele fundou tornou-se, com o passar dos anos, na maior de todos os tempos.
O Império Romano garantia a liberdade de culto. O ateísmo e a razão dominavam. É nessa época que surge um sujeito que, segundo dizem certos judeus, perdeu o juízo porque leu o Torah demasiadamente jovem.
O culto da personalidade do fundador da seita atinge, nos cristãos, um nível que nem mesmo o estalinismo o virá a igualar.
Foram os anos do desenvolvimento da seita Cristã .
Ano 312
Tomada do poder pelos cristãos.
No fim duma guerra civil, Constantino toma o poder. Pouco depois ele converte-se oficialmente ao cristianismo, e “autoriza”, num primeiro tempo, o culto do deus único cristão, pelo Édito de Milão: foi o início da perseguição religiosa na Europa.
Ano de 380
O imperador Teodósio proclama oficialmente o Cristianismo a única “Religião de Estado”. Mas ainda será necessário esperar mais 12 anos para que todos os outros cultos sejam definitivamente proibidos.
Ano de 389
Teófilo, hoje Santo Teófilo, é nomeado patriarca de Alexandria e inicia imediatamente uma violenta campanha de destruição de todos os templos e santuários não-cristãos.
Ano de 389
Pela primeira vez, um chefe cristão dita a um imperador a política a ser seguida. Santo Ambrósio de Milão levanta-se em plena catedral e, com o sentido de caridade tão particular aos cristãos, impõe que o imperador anule a ordem que dera ao bispo de Calinicum, para que sobre o Eufrates, reconstruísse uma sinagoga que ele e a sua congregação tinham destruído.
A Igreja toma partido, assim, desde o princípio, dos incendiários de sinagogas, posição que continuará a manter até ao ano de 1940.
Foi nessa época que aconteceram na Germânia as primeiras execuções de hereges, uma bela tradição que a Igreja desenvolverá com a Inquisição e a perpetuará até 1826.
Ano de 391
Uma multidão de cristãos, guiados por Santo Atanásio e Santo Teófilo, deita abaixo o templo e a enorme estátua de Serapis, em Alexandria, duas obras-primas da antiguidade. A colecção de literatura do templo também é igualmente destruída.
Ano de 412
Cirilo, hoje Santo Cirilo, doutor da Igreja, é nomeado bispo de Alexandria e sucede ao seu tio Teófilo. Excita os sentimentos anti-semitas difundidos entre os cristãos da cidade e, à frente duma multidão de cristãos, incendeia as sinagogas da cidade e faz fugir os judeus. Em seguida encoraja os cristãos a tomar os bens dos fugitivos, que foram obrigados a deixá-los para trás.
Ano de 415
Hepatia, a última grande matemática da Escola de Alexandria, filha de Theon de Alexandria, é assassinada por uma multidão de monges cristãos, incitados por Cirilo, patriarca de Alexandria, que será depois canonizado pela Igreja.
O motivo dessa acção foi que a brilhante professora de matemática representava uma ameaça para a difusão do cristianismo pela sua defesa da Ciência e do Neoplatonismo. O facto de ela ser mulher, muito bela e carismática, fazia a sua existência ainda mais intolerável aos olhos dos cristãos.
A sua morte marcou uma reviravolta: após o seu assassinato, numerosos pesquisadores e filósofos trocaram Alexandria pela Índia e pela Pérsia.
Alexandria deixou assim de ser o grande centro de ensino das ciências do Mundo Antigo.
Em reconhecimento pelos seus méritos de perseguidor da comunidade científica e dos judeus de Alexandria, Cirilo será canonizado e promovido a “Doutor da Igreja”, em 1882.
Séculos V a XV
“Idade Média Cristã”
Aproveitando o desaparecimento das grandes bibliotecas romanas e na ausência quase total da atividade editorial na Europa, a Igreja obtém, de facto, um monopólio sobre o conjunto da escrita e da informação.
É também nessa época que se desenvolve o que se tornará uma das mais ricas tradições cristãs: queimar pessoas vivas. Cerca de um milhão de “bruxos” serão torrados durante a Idade Média.
Séculos XI e XII
Em face do crescimento da população da Europa, a Igreja propõe um método de controle populacional “natural”: as cruzadas.
O apelo às cruzadas foi lançado em 1095. Em 1099 Jerusalém é “libertada”: logo que as tropas cruzadas entraram na cidade, o governador muçulmano rendeu-se sob a promessa da população civil ser poupada.
A última fase do massacre passa-se nas sinagogas e mesquitas da cidade, onde os habitantes aterrorizados se refugiaram: pensaram que o carácter religioso dos locais podesse inspirar os piedosos cruzados à clemência. Nada disso aconteceu: os cruzados entram e transformam os locais de culto em vastas carnificinas. O massacre de milhares de civis amontoados na grande mesquita da esplanada do templo dura várias horas. “Tudo o que respira” na cidade foi morto, informam com orgulho os comandantes dos cruzados. Tudo isto em nome de um Deus único.
Ano de 1231
Fundação da Inquisição. O Santo Ofício, durante toda a sua história, queimou mais de um milhão de pessoas, essencialmente hereges, judeus e muçulmanos convertidos e também os “bruxos”. A última feiticeira será queimada em 1788. O último “herege” chegará à sua vez em 1826.
Ano de 1251
O papa Inocêncio IV autoriza enfim a inquisição a praticar a tortura. A obtenção das confissões de culpa é grandemente facilitada. A inquisição pode aplicar, com base em confissões arrancadas através de tortura, penas: indo duma simples oração ou dum jejum até à confiscação dos bens e mesmo prisão perpétua. Mas ela não pode condenar à morte. Com a subtileza característica da Igreja católica, a inquisição podia “passar” um herege para a justiça comum, que o levará à morte na fogueira, com base na confissão obtida pela Igreja, mesmo com tortura. Essa subtilidade permitirá à Igreja afirmar que ela nunca matou ninguém...
Ano de 1483
Tomás de Torquemada é nomeado Grande Inquisidor de Castela. Esse monge dominicano faz uma ampla utilização da tortura e da confiscação dos bens das vítimas. Estima-se em 20.000 o número de pessoas queimadas durante o seu mandato.
Ano de 1492
O rei “muito católico” e a rainha “muito católica” (títulos dados pelo papa em pessoa!) de Espanha, expulsam os judeus.
Em toda a Europa os padres católicos mobilizam-se para obrigar os governos a proibir a entrada dos judeus expulsos.Os judeus que escolheram converter-se são perseguidos pela inquisição com uma impressionante determinação: até ao século XVIII, far-se-á o “Teste da banha de porco” aos judeus convertidos e seus descendentes: uma salada com pedaços de carne e banha de porco é apresentada ao “convertido”.
Ano de 1499
Acontece neste ano o maior “auto da fé” que a História registra. Em um só auto de fé, o inquisidor Diego Rodrigues Lucero queima vivos nada menos que 107 judeus convertidos ao cristianismo, em Córdova.
Ano de 1506
“Pogrom” de Lisboa: 3000 judeus são trucidados pelos piedosos católicos, incitados pelos prelados.
Ano de 1527
Saque de Roma.
Os soldados protestantes massacram a totalidade da população de Roma, umas 40.000 almas, e pilham a cidade. O papa é salvo pelos guardas suíços. Ele fecha-se com eles no Castelo de Santo Ângelo, enquanto a população é massacrada. Ele passou um grande medo. Os suíços ganham assim uma fama profissional no estrangeiro, o que se perpetua até hoje.
Anos de 1566 a 1572
Pio V, papa. Este santo da Igreja católica vangloria-se publicamente diversas vezes de ter, durante a sua carreira de inquisidor, colocado fogo com suas próprias mãos em mais de 100 fogueiras de hereges que ele mesmo acusara, confundira e condenara.Publica também uma nova edição do catecismo oficial da Igreja, no qual o amor ao próximo e a misericórdia ocupam um lugar importante.
Ano de 1609
Expulsão dos mouros de Espanha. Depois da expulsão dos judeus de Espanha, a inquisição aborrecia-se um pouco nesse belo país.
Ano de 1633
Processo de Galileu
Por ter duvidado da teoria geocêntrica de Ptolomeu, (que, diga-se de passagem, não era cristão), Galileo Galilei é obrigado a retratar-se: são-lhe mostrados os instrumentos de tortura que seriam usados se ele insistisse. O processo de Galileu só foi reaberto para revisão pelo papa João Paulo II, e Galileu é reabilitado em 1992.As suas obras já tinham sido colocadas no Índex em 1616. Passará o resto da sua vida confinado na sua casa (prisão domiciliar). Foi a sua reputação internacional de cientista que lhe evitou conseqüências mais graves.
Ano de 1788
No Cantão de Glaris, na Suíça, a última bruxa foi queimada.Esta execução da Inquisição não foi a última, e continuará queimando hereges até 1826.
Ano de 1793
Kant, professor de Filosofia em Konigsberg e estrela internacional da filosofia moderna, depois da publicação da “Crítica da Razão Pura”, publica “A religião nos limites da Razão”, onde ele coloca as doutrinas cristãs à prova do raciocínio e do “imperativo categórico”. É demais para os piedosos reis da Prússia, que empurrados pelos prelados protestantes, intervém e Kant é forçado a retratar-se publicamente, sob pena de perder imediatamente o seu posto na universidade de Konigsberg. Todos os professores universitários são obrigados a assinar, sob pena de dispensa imediata, um documento onde prometem não citar os ensinamentos de Kant com relação à religião. Como no caso de Galileu, a fama internacional de Kant o salva de conseqüências mais severas. Kant ainda pensa em se exilar, mas neste fim de século, há poucos céus clementes para pensadores que ousaram criticar aspectos da ideologia cristã. Assim acabará os seus dias em Konigsberg.
Ano de 1826
O último herege é queimado vivo pela inquisição espanhola. Uma rica tradição cristã termina. Daí para a frente, a Igreja recorrerá a meios mais sutis para matar, como proibir a assistência a mulheres que devem abortar, sabotando o planejamento familiar nos países pobres, proibindo os preservativos como modo de lutar contra a Sida, etc.
Ano de 1871
O papa excomunga todo aquele que participar de qualquer eleição do estado italiano, que é classificado como “diabólico”, porque retirou aos papas o seu poder temporal. Essa sentença de excomunhão automática não impedirá o papa de abençoar, alguns anos depois, a fundação do “Partito populare”, de inspiração católica e fundado por um padre.
Ano de 1881
Os “Pogroms” russos começam. Incitados pelos prelados ortodoxos, que difundiram um boato que o Czar Alexandre II teria sido assassinado por um judeu, multidões se juntam em mais de 200 cidades russas e destroem os bens dos judeus. Os pogroms tornar-se-ão comuns na piedosa Rússia Czarista, sobretudo entre 1908 e 1917. O mais violento dentre eles teve lugar em Kishinev, em 1913: as autoridades civis e religiosas da cidade incitam a multidão que ataca violentamente os judeus. Durante dois dias a multidão mata 45 judeus, fere 600 e pilha 1500 casas. Claro que os responsáveis (popes e políticos) nunca serão incomodados pela justiça.
Anos de 1918 a 1945
Os anos do compromisso. A Igreja católica apóia ativamente o crescimento dos totalitarismos na Europa. Na Áustria, o seu apoio ao Austro-Fascismo é total. Na Itália, ela assina com o regime fascista uma concordata que faz do catolicismo a religião de estado: os italianos podem de novo votar sem serem excomungados, pena que isso de pouco serve em período de ditadura.
O papa declara que todo aquele que votar nos comunistas ou que ajudar esse partido de qualquer maneira será automaticamente excomungado. Essa medida divide as famílias, provoca exclusões socialmente intoleráveis para muitos e obriga à clandestinidade de numerosos comunistas nas zonas rurais.
Anos 80
Depois de um período de aparente liberalização, o papa João Paulo II chega à cabeça da maior seita do mundo e rende-se às mais terríveis tradições da Igreja.
Anos 90
A Iugoslávia era, nos anos 80, uma das terras favoritas para férias balneares dos europeus. A publicidade iugoslava da época vendia o caráter multireligioso do país como um argumento turístico, pois se podia ver em Mostar e em outras belas cidades as mesquitas e as igrejas lado a lado. Mas o país se afundou numa série de guerras civis que se querem descrever como guerras “étnicas”, quando na verdade se tratam de guerras religiosas. O caso da guerra da Croácia é o mais flagrante. Sérvios e croatas têm a mesma origem étnica e até a mesma língua, o Croata-servo. O mais irônico é que o croata-servo (servo-croata, escrito em caracteres latinos), é hoje a língua oficial dos soldados do exército Iugoslavo que combateu em Kosovo contra a OTAN, depois de ter lutado contra os croatas no início dos anos 90. Mas a religião separa os croatas dos Sérvios: os croatas foram cristianizados por Roma e são católicos. Os sérvios foram cristianizados pelos bizantinos e são ortodoxos. Quando Milosevitch começa a agitar o espectro da “Grande Sérvia”, a Croácia declara a independência. Imediatamente o Vaticano e a R. F. da Alemanha, cujo chanceler se declarava um católico convicto, reconhecem a Croácia católica como estado independente. O Vaticano mandou para todo o mundo anúncios para que os países reconhecessem o novo estado católico. O papa multiplica os apelos, as preces e as missas pela independência da Croácia. Durante esse tempo, o ditador croata, antigo oficial superior do regime comunista e também católico praticante, deu férias para todos os seus funcionários ortodoxos, isto é, sérvios. Depois escolheu como bandeira nacional a antiga insígnia dos Oustachis, que entre 1940 e 44 tinham praticado um genocídio de cerca de 600.000 sérvios. A guerra civil iniciou-se.Finalmente termina essa guerra, e o papa beatifica o cardeal Stepinac que havia qualificado Ante Palevitc, o ditador Oustachi durante a ocupação de 1940/44, de “Dom de deus”, para a Croácia e o havia apoiado ativamente.A guerra da Iugoslávia continuou depois na Bósnia, onde os membros dos três grupos religiosos (ortodoxos, muçulmanos e católicos) se enfrentaram em uma série de combates triangulares, tendo a população civil como a principal vítima. Depois a guerra passou para o Kosovo, província agrícola sem interesse estratégico, e todos sabemos o que se passou.As guerras da Iugoslávia são um caso emblemático da catastrófica intolerância que é típica das religiões “reveladas”: as comunidades religiosas se enfrentam, neste final de século, em nome de religiões que elas receberam dos acasos da expansão dos diversos impérios (Romano, Bizantino e Otomano) desde a idade-média.***O encencial de tudo isto que acabou de ler é fazê-lo PENSAR, em vez de aceitar tudo como um dado adequerido